segunda-feira, 12 de março de 2012

Uma celíaca no navio...

Parece título de filme da Sessão da Tarde, mas nesse caso, a celíaca era eu, e o navio, o que escolhemos pra a nossa lua-de-mel. Ah, como foi bom! A verdade era que eu queria ficar por lá, balançando de um lado pro outro, mais um mês, no mínimo... Tudo perfeito!
Quando começamos a escolher o nosso destino, a primeira coisa em que eu pensava era como seria a minha alimentação. Será que eu comeria com tranquilidade?
Decidimos fazer um cruzeiro, e antes de procurarmos uma agência, eu entrei no site e na página do Facebook da MSC Cruzeiros para checar alguma informação sobre a minha restricão alimentar. Descobri que o navio oferecia opções para passageiros com restrições alimentares, bem como outro tipo de deficiência. Fiquei super animada e fomos até a agência para fechar o pacote. Lá, pedi a atendente da agência para comunicar à MSC sobre a minha restrição, e assim ela fez. Eles incluíram na minha reserva a observação "passageiro gluten free diet", e eu fiquei mais segura, afinal, passar 6 noites dentro de um navio comendo alface não seria nada fácil...
Embarcamos e a minha preocupação inicial era encontrar o maitre do restaurante que frequentaríamos, pois foi o que me orientaram a fazer. O navio tinha três restaurantes, sendo dois À la carte e um com buffet self service. Assim que cheguei à cabine, encontrei um envelope com o meu nome, e pra minha surpresa, era sobre a questão da minha alimentação. Procurei o maitre do restaurante e levei a carta até ele. Conversamos (mais com gestos que com palavras, pois ele era italiano) e ele se prontificou a me atender sempre que eu chegasse ao restaurante. Disse que eu deveria fazer todas as refeições ali, já que no buffet eu não teria muitas opções sem glúten, a não ser verduras e legumes. E assim foram meus maravilhosos dias dentro do MSC Musica, eu acordava, ia para o restaurante L'Oleandro e o senhor Antonio Caputo, responsável pelo restaurante, vinha imediatamente me atender.
No café da manhã sempre tinha uma torta doce com chantilly ou croisant, deliciosos. Não tinha pão salgado, mas eu comia ovos mexidos, omelete, salada de frutas, frios, e não senti falta do pão. Quando vinha algum garçom com aquela cesta liiinda, cheia de pães diferentes pra me oferecer, ele logo falava com seu sotaque italiano: "Nom, nom, ela nom pode, é gluten free..." Meu nome passou a ser "gluten free" dentro do navio.
Na hora do almoço ou do jantar, lá vinha o Antonio. Pegava o cardápio e já me mostrava o que eu podia comer. Perguntei sobre ter um cardápio específico para os "gluten free" - assim eu já pegaria o cardápio e escolheria minha comida, sem o Antonio precisar ficar de babá - mas o nosso garçom do jantar (cada pessoa tem a mesma mesa e o mesmo garçom determinados para o jantar, todas as noites), o Hendra, um indonésio muito simpático, disse em um "português-indonésio-italiano-inglês" que no "Brassi nom tem muito gluten free, na Europa, muito, mas no Brassi, nom tem", e por no Brasil não ter tantos celíacos quanto na Europa, o navio só disponibiliza cardápios sem glúten quando está lá, e, aqui, o maitre usa o cardápio convencional e nos mostra o que é apropriado para nós. Comi muito bem, fui muito bem atendida, a comida era deliciosa. Às vezes ele trazia outro prato, que não estava no cardápio, como o espaguete, que o nosso vizinho de mesa queria comer e o garçom dele foi logo dizendo que aquele espaguete era especial. Era engraçado, depois do pedido dele, ele sempre queria comer um prato igual ao nosso! 
De vez em quando, em nossa cabine, o telefone tocava e era a Srta. Emily, perguntando se estava tudo bem comigo, se eu estava sendo bem atendida, se eu estava satisfeita com a comida. Eles foram muito atenciosos. Eu quis saber se teria mais algum celíaco no navio, mas a princípio era só eu. Em um navio com mais de três mil pessoas, a única celíaca ser eu, era muita "sorte"... Mas, depois de um tempo, o Antonio disse que chegou uma moça no restaurante pedindo opções sem glúten, e eu fiquei doida pra saber quem era a minha parceira. Acabei conhecendo-a, e pelo que me contou, tinha três meses de diagnóstico, ainda estava engatinhando no mundo sem glúten. Conversamos muito e eu fiquei de enviar a ela um exemplar do nosso livro pra ela ficar por dentro do nosso cotidiano. Fiquei mais feliz em saber que eu não era a única ali. Agora, o mais impressionante, foi voltar e ver um comentário aqui no blog, de uma moça que pensou ter me reconhecido no navio, mas que depois achou que era loucura dela. Não era loucura, era eu mesma, e ela me reconheceu pelas fotos aqui do blog, mas ficou sem jeito de falar comigo. Que pena, nós conversaríamos horas sobre a DC, mas, não faltarão oportunidades.
Estou com saudade do navio, do teatro, dos shows, do luxo, da comida boa, da piscina, da diversão, da falta de compromisso, do Antonio e do Hendra (tomara que eles possam reencontrar a família deles logo, pois lá eles trabalham sem parar e ficam meses longe de casa).

Espero poder fazer outra viagem como essa em breve!

Torta sem glúten do café da manhã!
Beijos gluten free!


2 comentários:

  1. Que delicia ler esse post!! Parabéns!! Beijos

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  2. Malu, adorei o post!
    eu trabalho com turismo há anos, e trabalhei em navios por 2 anos, antes mesmo de eu saber o que era ser celíaca e glúten eu ouvi falar pela primeira vez a bordo do navio, os passageiros que era gluten free...e assim fui descobrindo sobre a proteína até um dia, me ver eu no papel dos meus passageiros...a vida dá voltas e vamos aprendendo!!!
    Adorei!! bjus

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